"O jazz sempre foi um interesse de minoria, como a música clássica. Ao contrário da música clássica, porém, o interesse que despertava não era estável. O interesse por jazz cresceu intensamente de uma hora para outra; por outro lado, houve épocas em que esse interesse caiu a níveis baixíssimos.
No final dos anos 30 e nos anos 50, houve um período de expansão marcante, os anos da Depressão de 1929 (nos EUA, ao menos), quando mesmo o Harlem preferia música leve e adocicada a Ellington e Armstrong. Os períodos em que o interesse pelo jazz cresceu ou foi reavívado, também foram, por razões óbvias para os produtores, épocas em que novas gerações de fãs quiseram conhecê-lo melhor".
Trecho do prefácio do livro "História Social do Jazz" do historiador Eric Hobsbawm, foi escrito há mais de 50 anos e ainda apresenta alguma atualidade, uma vez que os ciclos de altos e baixos ainda estão formando o padrão que definirá nossa época atual.
O fenômeno do Jazz aconteceu no século XX sem precedentes na história da música. O autor cruza informações econômicas e históricas analisando pontos de vista sociais que influenciaram o estilo desde sua origem e a relação com outros estilos como o rock que assumiram alguns de seus papéis sociais
.
Claro que ele expõe conceitos e pré-conceitos polêmicos que cabem a você analisar, principalmente se você gosta de história moderna e de vários estilos musicais.
"Não é preciso dizer muito a respeito do lugar que o jazz ocupa na cultura da minoria, nas "artes oficiais". Como veremos, até há pouco tempo o jazz tinha um lugar meramente marginal entre elas, em parte porque as artes oficiais o ignoravam, em parte porque se ressentiam dele como se fosse uma espécie de revolta popular contra seu status e pretensões à superioridade, e como uma agressão do filistinismo contra a cultura. Ele é ambas as coisas, e muito mais. No que toca à absorção do jazz pela cultura oficial, é uma forma de exotismo, como a escultura africana ou a dança espanhola, um dos tipos de exotismo "nobres selvagens" pelos quais os intelectuais de classe média e das classes altas ten- tam compensar as deficiências morais de sua vida, especialmente hoje, século XX, depois de terem perdido a certeza da superioridade de seu estilo de vida. Não vai aqui qualquer crítica ao jazz. A cantora de blues da Carolina do Norte, o trompetista de Nova Orleans, o músico-showman profissional, o veterano que há décadas realiza excursões tocando o "arroz com feijão" e música para dançar não têm culpa de os intelectuais ingleses e norte-americanos (incluindo, suponho, o escritor dessas observações) lerem a resposta às suas frustrações na música que executam."
Entretanto, o livro convida o leitor a entender melhor, apreciar o Jazz tradicional e algumas de suas clássicas transformações.